VERÃO

Estou em casa há muito tempo, dias e dias sem sair. Sabe bem, mas acabo por me sentir só. Este "rame rame" caseiro tem os seus prós e os seus contras.
Sabe bem estar em casa fazer o que nos apetece e quando queremos. Sabe bem ler ou ouvir música, baixo ou alto, conforme o estado de espírito. Sabe bem quando apetece comer ou beber sem nada que nos impeça ou nos critique. Sabe bem poder andar pela casa com mais ou menos roupa. Sabe bem ver televisão ou os programas que mais gostamos. Sabe bem pensar ou dormir consoante a disposição.
Mas puxa, viver é só isto?
Não, acho que não. Está-me a fazer falta sair do meu casulo. Está-me a fazer falta uns passeios à beira mar. Está-me a fazer falta umas boas gargalhadas com os amigos. Está-me a fazer falta convívio. Enfim, está-me a fazer falta viver.
Isto deve ser do verão, põe-me em ebulição e num frenesim de viver, viver. Deve ser consequência de ter tido uma infância também muito caseira, foram dias difíceis mas já passaram e eu não costumo estar muito presa ao passado, mas apetece-me pensar que estou destinada a ficar sempre em casa. E o hábito já é tão grande que estou com medo de um dia já não me apetecer sair de casa.