segunda-feira, novembro 08, 2010

RECORDAR OS BONS VELHOS TEMPOS

segunda-feira, novembro 08, 2010


Eh lá, ando a escrever muito pouco, mas a falta de tempo é complicada. Com a netinha na escola ao pé de casa da avó ainda pior. É um vai e vem diário, pois tenho de a ir buscar e levar à escolinha, fazer o almoço, dar-lhe o lanche e por aí fora. O tempo torna-se curto e à noite, que é quando estou mais disponível, estou cansada e quantas vezes não apetece mexer em mais nada. Hoje, domingo, é dia de folga e cá estou mais uma vez com um textinho que não é meu, mas que aqui deixo com muito carinho e que possa ajudar alguém a pensar nestas palavras. Eu acho que para sermos felizes temos de começar por estar de bem com nós próprios para depois estar de bem com os outros. É só procurar dentro de si mesmo o equilíbrio, ser positivo, até mesmo com as adversidades, e seguir em frente, porque o tempo não volta para trás.

A humanidade evolui e a mente acompanha este processo, tal como as caraterísticas físicas. É fácil reparar que temos menos pêlos, dentição mais alinhada, dedos mais finos e longos e um aspeto de todo mais elaborado.
O próprio corpo tem outros odores e somos mais cuidadosos com a higiene e a aparência. Entre muitos outros traços, reparamos que temos sofrido alterações profundas e que este processo ocorre em todas as culturas, mesmo que o tempo de história e desenvolvimento não seja igual para todos.
Perante esta realidade, verificamos que estamos ligados ao passado, ao início da nossa história pessoal, pois com o passar dos anos, vamo-nos distanciando das origens e desligando a importância de algumas coisas que, outrora nos faziam bem e que precisamos de compreender a substituição e não a perda. Aprendemos a gostar de outras coisas, de novas formas de estar e o pensamento parece acompanhar cada etapa.
Contudo, com o passar dos anos, começa a imperar o saudosismo e, muitas vezes não compreendemos porquê, pois se estamos tão distantes da nossa base de formação, por que razão o passado parece fazer-nos falta?
A questão é tão simples quanto complexa em simultâneo, pois começamos a envelhecer desde que nascemos, muito embora os primeiros sinais sejam mais evidentes a partir dos 25 anos, já que nesse período de tempo ocorreu o desenvolvimento do corpo e algum amadurecimento mental e da personalidade.
É a partir dessa fase em que pensamos mais em nós, prevenimos doenças e tentamos recuperar os danos que, na loucura da adolescência foram ficando para trás.
Ao constatarmos que nos vamos degradando e que precisamos de tratar de nós até para esconder os sinais do tempo, tomamos consciência de que a juventude não é eterna e que o que nos fazia sentido nessa faixa etária, vai senso substituído por outros interesses.
Planeamos a vida adulta, o casamento, a paternidade ou a maternidade, a carreira e tudo aquilo que consideramos necessário para o nosso conforto. Naturalmente sentimo-nos responsáveis pela nossa vida e pelos nossos atos, quando na adolescência os nossos pais tratavam dos nossos interesses e desejos. Percebendo essa transformação, muitas vezes brusca, começa a ocorrer o saudosismo que, levado ao extremo se torna negativo e um impedimento para prosseguir a nossa vida, a ponto de nos encontrarmos com 40 anos a fazer as loucuras da adolescência! Depois queremos que o tempo volte atrás como se isso fosse uma solução para retardar o processo de envelhecimento, quando a solução está na nossa capacidade de nos dedicarmos à vida atual e de aprendermos a preservar os traços e os prazeres da idade anterior.
Se fizermos uma escala com o nosso percurso, em jeito de cronologia da nossa própria vida, facilmente colocaremos em cada idade os traços mais marcantes e, a partir daí, podemos sempre ter a opção de prolongar o que se adequa ao presente, sem a “aberração” de vivermos emoções ou comportamentos fora de tempo.
Posto isto reparamos que não temos de correr atrás do progresso, mas sim de alinhar o nosso percurso pessoal de acordo com o ponto de partida, que varia de pessoa para pessoa. Sabendo que no tempo presente, a data é a mesma para todos, mas os saberes e as preferências não, não faz sentido copiar o percurso dos outros, já que não se adequará a nós pelas naturais diferenças alcançadas.
Se há quem não viva sem um computador, há quem não abdique da sua máquina de escrever que tem um significado especial, mas que saiba manusear a máquina moderna, que trabalhe e desempenhe as suas funções. Simplesmente na privacidade, pode optar pela utilização dos seus objetos.
O mesmo se passa com a velha máquina de café e as sofisticadas cafeteiras, os discos de vinil e os CDS e daí por diante. Se pensarmos que, podemos orientar a nossa vida privada para o sentido que quisermos, talvez sejamos muito mais moderados e felizes, pois seguramente que, jamais conseguiremos acompanhar este ritmo alucinante impresso por quem começou num ponto de partida muito diferente!
Gostar das nossas escolhas, opções, sensações, pessoas, músicas continua a ser um direito que só a nós cabe afirmar, sob pena de entrarmos na linha dos 60 anos com uma depressão profunda motivada pela falta de enquadramento social, já que deixamos as nossas raízes e não conseguimos construir alicerces pessoais na corrida contra o tempo. Esta é a grande diferença do envelhecimento bem ou mal sucedido, pois o bem-estar resulta da conformidade que estabelecemos entre o que fomos e somos e não entre o que somos e querem que sejamos.
As decisões, por muito que estejamos ligados ao sistema, são sempre individuais, pelo que não temos de fazer o que nos é sugerido, mas sim aquilo que sentimos e, ter a liberdade para percorrer o tempo que nos faz bem… Não é por estar na moda viver na cidade, que uma pessoa do campo lá seja feliz ou vice-versa, pois a moda somos nós quem a fazemos: se gosta de usar gravata, não deve substituir esse gosto só pela crítica…
Ao mesmo tempo, o progresso é sempre atrativo já que a tendência evolutiva é facilitar o esforço humano e talvez sobrecarregar mais a mente, contudo devemos ter coragem para adequar o progresso ao que somos e não ao contrário, sob pena de nos tornarmos amargos e revoltados contra o sistema, quando a opção é nossa.
Acima de tudo, temos de olhar para nós mesmos e, a partir do que não queremos, delinear o que nos faz bem… Só este já é um motivo para poder recordar os bons velhos tempos com uma saudável alegria interior de quem não deixou perder o seu melhor.
É comum entrarmos numa viagem alucinante em prol das descobertas, com a sensação de que o mundo é pequeno, igual para todos e que basta descartar o nosso passado para que entremos na era moderna. Contudo, o nosso corpo não se rege pelas energias que nos movimentam para essa rota, mas sim a partir das suas capacidades e preferências muito marcadas nos primeiros anos de vida.
Quer isto dizer que, mais cedo ou mais tarde retornaremos à nossa essência, pelo que de nada nos serve passarmo-nos pelo que não somos ou temos. Se gostou da música dos anos 60 e 70, mais cedo ou mais tarde vai encontrar a nostalgia e uma pessoa que se perdeu no progresso.
Mas se a mantém dentro de si, seguramente que viverá de uma forma equilibrada e ajustada ao seu percurso; sem vergonha por gostar de si e do que foi no passado e com um argumento muito pessoal para ser como é. Sabe apreciar o novo tempo e os sons atuais, pois incluiu o novo ao seu passado e ficou com muito mais conhecimento de vida!
O saudosismo pode colocar-nos em estado de perda total da nossa identidade, sobretudo quando queremos regredir na personalidade e recuperar o tempo dado como perdido. Ora não seria mais fácil a honestidade e a afirmação de que se faz parte de dois tempos e que precisamos de ambos para o nosso bem-estar e equilíbrio?
Para quê agarrar o progresso como uma bandeira para a salvação se a sua felicidade está no que aprendeu, conheceu e identificou como sendo fundamental para si? Uma paragem cuidadosa e um olhar para o percurso, são passos essenciais para o envelhecimento bem sucedido, tal como encontrar uma explicação para o seu percurso, ajuda a clarificar o que fez e o que pretende fazer no presente e como quer programar o futuro… É sempre possível ter tudo, desde que se saiba onde colocar cada episódio de vida…

Margarida Antunes
in Gastronomias

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