Tenho pela segunda vez a minha mãe em casa após a morte do meu marido. Sinceramente não me faz diferença nenhuma. É minha mãe. No entanto, ela sempre esteve mais tempo com a minha irmã do que comigo, pois é muito agarrada ao neto. Desde que ele nasceu que é o menino dos olhos dela. Nem eu, nem a minha irmã e nem as outras três netas teem ciúmes, somos unidos nesse aspecto. Compreendemos o amor que ela tem por ele porque ela sempre quis ter um filho homem e não teve, de maneira quando nasceu o neto foi como se lhe tivesse saído a sorte grande. Amor esse que deu para fazer umas asneiritas, como por exemplo dar-lhe tudo o que ele queria comer, resultado: hoje é um homem com 26 anos e gorduchinho. Gordura essa que só lhe faz mal e que ele se vê aflito para conseguir emagrecer, não por vaidade mas por uma questão de saúde.
Tantas vezes que ralhei com ela para não dar tanta comida ao miúdo, a resposta era aempre: "se ele tem fome o que é que queres que eu faça?", muitas vezes lhe respondia que poderia lhe dar outras coisas que não lhe fizessem mal. Por exemplo: ao lanche dava-lhe dois yogurtes e 4 carcaças. Eu achava mal, em vez de tanto pão devia-lhe dar fruta. O tempo passou e já não há nada a fazer.
Mas não foi por isto que comecei a falar da minha mãe e sim por ela cá estar.
A psicóloga chamou-me a atenção que a minha irmã agora é que deveria a ter com ela. O luto pelo meu marido mal começou e nesta fase deveria ter tempo para mim e pôr a cabeça no lugar, penso sempre primeiro nos outros e esqueço-me de mim. Ela é capaz de ter razão, mas eu não conseguiria dizer não à estadia da minha mãe em minha casa. Não conseguiria ficar de consciência tranquila comigo mesma por mais motivos que pudesse ter.
Até a minha filha mais nova, que ainda está comigo, diz: "oh mãe quando é que estamos as duas sossegadas?". Aí só posso responder que é por pouco tempo também tenho de aliviar a minha sobrinha que passa toda a semana com ela quando ela está em casa da minha irmã. Agora deu em não querer ir para o Cartaxo prefere ficar aqui ao pé do neto pois sente-se mais tranquila. Tem o hospital a cinco minutos de casa e no Cartaxo é dificil pois o hospital mais próximo é em Santarém.
Voltando a mim, outra vez, e ao meu luto. Sim preciso pôr a minha cabeça no lugar e com tanta coisa para tratar, preciso de mim, preciso de pensar que o meu marido não volta, preciso de pensar que sou só eu e a filhota em casa, preciso de tirar o resto das coisas dele, preciso atenuar a dor de o não ter mais ao pé de mim, preciso de me preparar para uma nova vida sozinha, enfim preciso, preciso, preciso...
quinta-feira, outubro 27, 2011
FAZER O LUTO
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AnadoCastelo
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sábado, outubro 22, 2011
LEITURA
Como me é difícil adormecer tenho lido muito mais, o que me é agradável, pois desde menina que adoro ler. A minha mãe (que por infelicidade dela não sabe ler) fazia-lhe muita confusão eu passar fins de semana a ler. Chegava mesmo a ralhar comigo porque dizia que eu estragava a vista (eu uso óculos desde os sete anos). Coitada, nunca chegará a saber o prazer da leitura. Mas isso é outra história.
Como eu estava dizendo tenho lido mais, coisa que não fazia há algum tempo e fiquei surpreendida com os nossos novos escritores. Estive a ler o "Anjo Branco" de José Rodrigues do Santos, que apesar de ser um pouquinho para o grande, lê-se muitissimo bem. E não é que foi difícil deixar para o outro dia quando já devia estar dormindo? Pois é, escrita muito clara e bem organizada. Dou nota dez.
A seguir, estive a ler "Por ti resistirei" de Júlio Magalhães. Quando o comecei a ler achei que ia ser uma chatice, mas à quarta página já não parava. A história é diferente, claro, mas nem por isso é menos interessante, vale a pena ler.
Agora vou começar a ler "A Dama de Espadas" do Mário Zambujal.
É engraçado ver a diferença dos nossos escritores clássicos com os actuais. A maneira de escrever e de dizer é diferente mas nem por isso com menos ou mais qualidade. Cada qual com a sua referência pessoal. Isto deve ser o defeito de quem trabalhou na comunicação social, como eu, que conseguimos distinguir a maneira de escrever de cada escritor.
No entanto, não hei-de ficar por aqui, há muitos mais escritores que eu ainda gostaria de ler. É o que faz não estar habituada a dormir sozinha, agarro-me à leitura. É um bom vício, não acham?
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AnadoCastelo
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12:34 da manhã
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segunda-feira, outubro 17, 2011
DE LUTO
Agradeço a todos quantos me leem e que gostam do meu blogue. Não há palavras de agradecimento por terem a paciência de tirar um pouco de seu tempo para se entreterem com a leitura do meu blogue.
Não tenho cá vindo há uns meses porque o meu marido adoeceu e não foi um processo muito fácil entre idas ao hospital e regressos a casa.
Meu marido foi operado em Julho do ano passado onde lhe retiraram a bexiga devido a um cancro (é bom que se fale em cancro e não se esconda esta palavra, pois é a doença da moda em todo o mundo, não há que esconder, ela existe e ponto final), mas como ia dizendo foi operado e ficou com saco para sair o xixi. Até principios de Julho deste ano a coisa foi bem, mas o médico mandou-lhe pôr um cateter para fazer quimioterapia directa à veia, mas ou o cateter foi mal posto ou o próprio organismo rejeitou-o e formou por trás um coágulo de sangue. Resultado: tirar imediatamente o cateter e liquidificar o sangue para o coágulo desfazer. Bem o sangue devia ter ficado tão liquido que apanhou uma anemia. Mais uma ida ao hospital para levar sete unidades de sangue para tratrar a anemia. Saiu do hospital a 10 de Agosto muito bem, uma semana depois começou a queixar-se que a perna esquerda estava dormente e começou a não ter força na perna para andar, tinha de ir agarrado a mim para ir para a cama ou para o sofá.
Nova ida ao hospital e o médico dele mandou-o para as urgências outra vez. Passei o dia inteiro no hospital a fazer TAC´s, primeiro à coluna pois pensava-se que o motivo da perna presa seria coluna, mas o resultado provou que não, então mais um à cabeça e aí o dia 18 de Agosto ficou-me marcado e em choque recebi a notícia pela médica que me diz o resultado deste TAC: o tumor tinha-se espalhado e estava a apanhar-lhe a cabeça.
Daqui já calculam o que passei até dia 3 de Setembro quando ele ficou internado em SO (Sala de Observações), nesse dia (sábado) ainda lhe dei água por uma palhinha, quando o fui ver no dia seguinte já não conseguia beber pela palhinha e tinha a cara do lado esquerdo fria. Ainda respondia com a cabeça ao que eu lhe perguntava, mas mais nada. A visita foi curta, porque ali só podemos estar uns curtos 15 minutos com os doentes e foi a última vez que o vi vivo. Faleceu nessa madrugada, dia 5 de Setembro.
Agora calculam o choque que foi quando me mandaram ir ao hospital sem eu saber para o que ia e deram-me a notícia assim: "minha senhora o seu marido faleceu eram 5" e não ouvi o resto, chorei ali mesmo até desabafar. Felizmente fui acompanhada pela minha vizinha que só me dizia para chorar pois ela sabe que o meu problema é esse mesmo: não chorar. Tenho a tendência para não chorar e depois fico doente. Mas naquela altura abri as comportas até me apetecer. Mais calma, avisei as filhas a irmã e tratar do funeral.
Quis que o meu marido fosse cremado. Assim se fez e fomos deitar as cinzas no mar que ele tanto gostava. Quem o queria ver contente e feliz era no verão ir para a praia. Acho que lhe fiz a vontade. No meio da tristeza lembrei-me que desde que fomos ao Brasil ele não ia aqui às nossas praias faltava-lhe a agua quentinha do nordeste brasileiro.
Hoje passado mês e meio sei que ele está bem, mas a saudade é muita. Quando chega a hora do jantar ainda tenho a sensação que ele vai abrir a porta e aparecer, mas sei que isso não é possível. Que ele esteja em paz é só o que eu quero. Eu estarei aqui pensando nele com muito carinho e amor até um dia que Deus queira e juntar-me a ele.
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AnadoCastelo
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11:03 da manhã
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