quarta-feira, outubro 06, 2010

O DIVÓRCIO JÁ NÃO TEM IDADE !!!

quarta-feira, outubro 06, 2010


Aqui está um tema que daria pano para mangas, ou seja, para um bom debate. No tempo das nossas avós seria impensável que um casal se separasse, a mulher tinha de aguentar todo o tipo de sevícias que o marido lhe apetecesse infligir. Aliás, até mesmo no tempo das nossas mães ainda não era bem visto uma senhora separada ou divorciada, mas já havia algumas. Hoje, é o prato do dia. Há poucos casais que possam dizer que têm um casamento longo, estamos na época do casa descasa, como dizia o Jô Soares. No entanto, parece que até entre os casais com dezenas de anos de casamento se querem divorciar. Então leiam o artigo que aqui deixo e que, para mim, foca muito bem o problema actual:



Quando muito se tem falado no elevado número de divórcios nos casais mais jovens, importa atender também a um fenómeno mais recente que parece trazer para a sociedade dados novos do que não está bem entre os casais.
Trata-se dos divórcios depois de se completarem décadas a dois, após o casamento dos filhos, na fase de envelhecimento e quando faria sentido a compreensão, a companhia e o conforto emocional, supostamente construídos ao longo do casamento e que não aconteceu pelos mais variados motivos.
Muitos parceiros planeiam o divórcio a partir do momento em que se apercebem da incompatibilidade conjugal, existindo casos em que não se conversou acerca do assunto e que simplesmente se pensou e programou a separação para uma altura mais oportuna de vida.
Quase sempre a decisão é pessoal, sendo que é comum um dos parceiros “apanhar de surpresa” essa decisão, mesmo sabendo que a vida não era satisfatória para ambos, mas um dos elementos ganhou coragem para a mudar. Após essa tomada de consciência, muitos parceiros adiam a decisão em prol da educação e processo de autonomização dos filhos.
Ao mesmo tempo, o fator património constitui um objetivo: acumular a auto-suficiência numa fase posterior de vida e construir outros planos para si, já que o dinheiro assume um papel determinante numa fase em que se exige conforto e, muitas vezes, um incentivo para um novo casamento. Ao mesmo tempo, quanto mais património o casal reunir, melhor ficarão ambos na divisão; isto no caso da comunhão de bens.
Note-se que, numa idade mais avançada, esta postura de lucro assume mais importância do que qualquer outra, pois quando já não existe interesse pelo outro, o materialismo ocupa esse espaço.
Se por um lado, o divórcio é uma fase delicada para um casal, por outro, com esta postura face ao casamento, a separação acaba por ocorrer logo que estejam reunidas as condições, nem que isso aconteça após os 50 anos.
Ao mesmo tempo, enquanto que o inconsciente de cada conjuge está a delinear a sua vida sem o parceiro, está a acreditar que é possível viver experiências novas que aquele casamento não lhe possibilitou, o que parece facilitar a coragem para avançar com a separação. Nem sempre esta decisão é conjunta, nem do agrado de ambos, mas a nova legislação veio facilitar aqueles que estão decididos a prosseguir com um novo projeto de vida.
Efetivamente, há casos em que o divórcio parece fatalmente ser a solução possível para a falta de interesse, ausência de prazer, gostos distintos, discussões sucessivas, desentendimentos a vários níveis, falta de capacidade para entender o outro, diálogo pouco satisfatório ou esclarecedor, dificuldade em acertar planos conjuntos, perda da atividade sexual, aumento do estado de angústia face ao outro e ao amor, descrença do que diz, falta de confiança, infidelidade promessas não cumpridas e falta de expetativas face ao relacionamento, o que se sublimou durante anos com a esperança de encontrar uma alternativa ao modelo de vida instalado.
Se o divórcio pode ser uma ameaça e servir de incentivo para uma mudança comportamental no seio do casal e para uma reconciliação, por outro consiste num alívio ou numa solução para travar um percurso de angústias e de sofrimento, pelo que, em muitas situações, não há outra possibilidade, muito embora, existam casos de sucesso em que o diálogo franco e a adoção de outra postura face ao casamento devido á maturidade e ao encontro de ideais para ambos, alteraram e contornaram as divergências, muitas vezes sem sentido entre os parceiros.
É de salientar que, o aumento dos divórcios está associado aos novos interesses dos indivíduos, à possibilidade de se divorciarem, o que não aconteceu no passado e á procura de mais satisfação conjugal que já não se acredita ser possível com aquela pessoa. Também a violência doméstica, ainda muito vincada na nossa sociedade, é um dos grandes pretextos para a separação nos casais mais velhos, sobretudo pelo desgaste, pela mentalização de que se merece melhor e pela facilidade de resolver estes processos outrora litigiosos.
Com a emancipação da mulher, também são muitos os traços relacionais que se alteraram e deram lugar a outros ideais para um relacionamento. Não nos podemos esquecer de que, a mulher era uma mártir nos casamentos e que hoje se assume como alguém que tem direito à sua felicidade, sendo a intimidade um ponto fundamental nesta mudança.
A mentalidade masculina nem sempre acompanhou os interesses e aspirações femininas e, enquanto que há mulheres que esperam por essa mudança, são muitas as que desistiram e, aquando se sentem independentes em termos financeiros, consolidam a ideia e passam para o divórcio. O homem, ao perceber que a mulher não o corresponde, avança para a infidelidade, consumando o divórcio em caso de substituição conjugal, pressão da nova companheira ou em casos extremos, pela necessidade de mudar de vida conjugal e de procurar alternativas.
Convenhamos que, o fato da mulher trabalhar fora de casa, ajuda neste processo que foi evitado durante um percurso histórico, pois as dificuldades financeiras amordaçavam os desejos femininos. Ao mesmo tempo, foram muitas as mulheres que, para segurarem os casamentos, adiaram a independência natural dos filhos, fosse pelo medo de estar só com o marido, fosse pelo medo de ter de se divorciar. Esta realidade acarretou consequências também desastrosas para os descendentes que se viram obrigados a manter o casamento dos pais pelas dificuldades financeiras da mãe ou pelo medo da solidão.
Entende-se assim, a razão pela qual Portugal conhece um período em que já não existe uma idade para acontecer a suspensão da convivência conjugal e que existem motivos bem definidos para a sua ocorrência, sendo de contemplar a própria evolução e dinâmica social que alargaram horizontes gerando novas expetativas para contrapor o casamento para “toda a vida”.
Importa ainda ter em conta que, o conceito de casamento também se alterou, já que os parceiros têm liberdade para escolher a pessoa com quem desejam dividir a sua vida, existe uma maior noção do que é o casamento, pois este não é um ato social, nem procriativo, muito menos um emblema para o homem em que a mulher não faz parte.
Estamos no tempo da harmonia conjugal, do diálogo, da divisão de tarefas, da satisfação sexual, da partilha de responsabilidades e interesses, pelo que é natural que, os casais mais velhos, queiram experimentar algo a que têm direito, afinal a idade não pode retirar os planos e a felicidade ao ser humano.
Depois mudou o tempo da espera pela mudança do parceiro numa época em que se quer viver em paz interior e, são cada vez mais raros os casos de casamentos que se mantêm nessa procura da felicidade de um dos elementos, pois deseja-se uma construção conjunta.
Também o traço mais caraterístico dos casamentos do passado que era a definição clara dos papéis do homem e da mulher, não consiste hoje um motivo para a união, já que ambos trabalham e têm o seu conhecimento. A mulher não aceita tão facilmente ser enganada e mal tratada pelo companheiro e ele já não coloca o casamento acima dos valores sociais ou religiosos.
O casamento faz-se de um compromisso que, pode ou não ser assinado e, quando não são cumpridos os requisitos do bem-estar, dissolve-se e procura-se outra forma de vida. De acordo com esta realidade, percebemos a importância de encarar uma relação a dois com responsabilidade e seriedade para que esta perdure com entusiasmo e valores atualizados, pois o tempo não volta para trás!

Inês Medeiros - www.algarveprimeiro.com

1 comentário:

hesseherre disse...

Como médico, agora aposentado, eu entrevistei-lógicamente, muitas pessoas em ambulatórios e consultórios. Eu sempre tive uma grande perplexidade em constatar pessoas com mais de 17, 20 anos de casados, resolverem se separar.
Estçao envelhecidos, murchos, sem atrativos para conseguir novos parceiros para uma relação estável...eu nunca entendi este despregamento conjugal.