quinta-feira, abril 24, 2008

RECORDAÇÕES I

quinta-feira, abril 24, 2008

Pois é verdade, ainda me lembro bem da passagem pela minha infância.

E continuando a história do post anterior tinha acabado por contar que a minha professora primária armou-se em durona e acabou com uma repreensão do Ministério da Educação. E eu sem saber nada. Quando lá cheguei depois das férias, ela só se metia comigo dizendo que eu era queixinhas e olhava para mim de soslaio. Ora, eu na altura teria os meus 8 a 9 anos, a minha mãe não me tinha contado sobre a queixa e eu não percebia porque a professora me dizia aquilo. Só passados uns bons meses é que a minha mãe me contou o que tinha feito. Aí percebi tudo. Mas pronto, a questão ficou por aí e não se falou mais nisso.
Recordo ainda, que uma das "educadoras" fazia muito bem malha (tricot, como queiram) e foi com ela que aprendi a fazer vários pontos e camisolas. Ainda cheguei a fazer várias com a sua ajuda para o marido dela. Eu adorava aquilo. Ah e ainda quando eram dias especiais tínhamos lanche melhorado, aí davam-nos leite com chocolate e pão com marmelada. Era uma festa. Meu Deus, foram dias realmente difíceis. Esta geração nem lhes passa pela cabeça o que muita gente passou. Mas adiante...
Voltando um pouco atrás, lembro-me também de já ter os meus sete anos e levar a minha irmã e o filho da porteira pela mão, de casa para a escola e vice versa. E nessa altura os invernos também eram muito frios. E quando era aquele frio que até fazia doer o nariz? Ai, até os joelhos doía. Naquele tempo não havia "collants" de espécie nenhuma e as meninas vestiam-se com meias até ao joelho. Daí, que ainda hoje quando está frio é nos joelhos e nos pés que tenho mais frio.
De maneira, que quando fui para a escola preparatória, em que geral todos os miúdos não gostam muito desta transição, eu fiquei feliz de verdade. Primeiro, tinha uma data de professoras; segundo, tinha recreio de hora a hora; terceiro, não havia tanta rigidez no ensino.
E foi aqui que tive as primeiras conversas de meninas, que soube o que era o sexo, o que era namorar, o que era casar e todas, mesmo todas, com muitos sonhos e fazendo muitos castelos no ar. Para nós, na altura, namorar e casar eram só rosas, só romantismo. Éramos mesmo ingénuas. Aliás, éramos mesmo muito tapadinhas, nesse tempo as mães não conversavam com as filhas ou mesmo com os filhos, como agora, não haviam conversas abertas, pelo contrário, era tudo muito fechado, muito em sussuro para não ouvirmos, tudo o que aprendíamos era umas com as outras, por uma conversa aqui, outra conversa ali escutada sem ninguém dar por isso.
Os dois anos na preparatória passaram depressa e passei para a escola comercial. Aqui já me sentia mais velhinha, mais importante. Por esta altura já teria os meus doze a treze anos. Já cozinhava em casa porque a minha mãe chegava muito tarde do trabalho e o meu pai já estava doente. Quando eu fiz os 14 anos e passados uns dias ele faleceu. Tive de deixar de estudar e começar a trabalhar. Tinha de ser. A minha mãe sozinha não aguentava.
E pronto daqui para a frente já são outo tipo de recordações. Quem sabe se não falarei um dia sobre elas.

7 comentários:

Anónimo disse...

Dizem que recordar é viver né? principalmente quando as lembranças são boas!!! ahh amiga, enquanto lia, voltei no tempo e revivi minha própria história, até mesmo de quando aprendi tricô e crochê...rssss...que delicia!!

Mais uma vez, obrigada pelo carinho viu, hoje tomei um banho de alto astral com algumas amigas e já estou novinha de novo!

Beijão!!!

Renato Tavares disse...

Continue escrevendo adoro seu estilo nunca pare

Capitão-Mor disse...

Gostei bastante destes dois últimos textos. Dá-me uma noção do que foi a meninice de umas gerações anteriores á minha.

Bom fim de semana!

Rubi disse...

Engracado que essa nocao romantica do namoro, e do casamento, tambem se aplicava a minha geracao. Pensava que tudo seria perfeito quando encontrasse a pessoa. Ate que um dia descobri que nada nem ninguem e perfeito. E ate se vive bem com a imperfeicao das coisas e dos outros. Parabens por ambos os textos. Muitos beijinhos

AnadoCastelo disse...

Filósofo:
obrigado por sua visita volte sempre que desejar.

Evelyne Furtado. disse...

Ana, adorei sua generosidade ao compartilhar suas lembranças. Uma delícia. Obrigada.
Beijos.

Susana disse...

Ana é bom a gente recordar, até porque recordar é viver!!!
eu não vou ser para o meu filho o que os meus pais foram para mim...
Os meus pais a contar lembranças deles do tempo de namoro para nós era assim: eu e o teu pai namoravamos ao longe da janela, era de mãos dadas, não se fazia o que hoje se faz etc...
muitos beijinhos para ti